terça-feira, 27 de outubro de 2015

20 anos de um disco absolutamente indescritível

Créditos: npr.org / reprodução

Um chute na porta, um soco na cara, uma cabeçada no peito. Uma força até hoje pouco compreendida faz de Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) a essência de uma geração, o retrato de um grupo em seu auge, que se perdeu em influências tão díspares e obteve uma sensibilidade ímpar em canalizá-los, sem tirar o pé do acelerador. Rocks contundentes, baladas de cortar os pulsos e tem ainda orquestração, música instrumental, muita distorção, eletrônica, violões, uma miscelânia indescritível que até hoje emociona, faz rir, chorar. Não há um porquê.

Eu era moleque. Foi o primeiro álbum que conheci deles. Paguei R$ 23,90, um preço absurdo para a época (na Acústica CD's Shop, loja que ainda existe na Savassi, em BH). Clipes rolando aos montes na MTV, um melhor que o outro, músicas absolutamente distintas, mas todas eram (e ainda são) absurdamente belas: Bullet With Butterfly Wings, Tonight, Tonight, 1979, Zero, Thirty-Three. Cinco singles majestosos. Lembro que escrevi uma resenha na época (não lembro se foi pra jornal, revista, blog, era ali em meados de 2000, creio) e cravei que das 28 músicas, "20 eram excepcionais". E escutando agora, 20 anos e 3 dias depois, percebo o quanto esse álbum continua necessário e envelheceu bem.

Na época em que as festas durante as tardes eram vazias, ao mesmo tempo em que me empolgava cada vez mais com o britpop e o grunge, veio este cd que sepultou o (bom) trabalho que faziam até então. Pegaram essa crueza dos dois primeiros trabalhos e colocaram mais peso, mais barulho. Ao mesmo tempo, retiraram boa parte do peso que lá havia. Acrescentaram pitadas de rock progressivo, heavy metal, folk e New Order. Estava fadado para a incompreensão. Mas vendeu mais de 20 milhões de cópias na época e jogou o grupo em outro patamar, de onde ele lutou para se situar nos anos seguintes, mas acabou sendo implodido de dentro pra fora. Hoje, Billy Corgan cansou de juntar os cacos e curte mais quebrar vidraças. Bola pra frente.

Destrói a mente, destrói o corpo, mas jamais destrói o coração. Em um imenso poço de "melancolia e infinita tristeza" ainda havia uma luz, havia algo bom, que se contrastava com o clima sombrio. Esse emaranhado de sentimentos se dividia entre canções formidáveis, calmas e doces que faziam ninar até um tiranossauro como Galapogos, In the Arms of Sleep, To Forgive, By Starlight, Lily e We Only Come Out at Night. O oposto, beirando o caos, na qual pregava que "amar é o suicídio" (Bodies) e (ainda) mais barulho era necessário nas ótimas Fuck You, X.Y.U., Where Boys Fear to Tread, Jellybelly e também nas quase obscuras e praticamente perfeitas Here is No Why e Muzzle. Além de duas músicas que são tão belas que chegam a doer, para ouvir sem pressa: Porcelina of Vast Oceans e Thru the Eyes of Ruby.

Um momento único para o grupo e para mim. O estrago foi feito. Eles nunca mais foram os mesmos. Nem eu. Ele mudou completamente a minha vida, está no meu top 10. Escrevi essas linhas todas, mas ele segue sendo indescritível. Desculpem pelo tempo que tomei de vocês.

Sofra do meu desejo:




quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O deluxe do deluxe: Stones em Sticky Fingers

Reprodução / blogspot.com

Não tenho muito o que dizer sobre os Rolling Stones. Primeiro álbum de rock que ouvi, grupo que mais escutei em toda a minha vida. Ostento orgulhosamente quase toda a discografia original em CD, mesmo em épocas de mp3 e o escambau. Um orgulho palatável que ganha poeira na minha prateleira, lá em Belo Horizonte.

Aí cai nas minhas mãos a versão deluxe de Sticky Fingers (1971) do grupo. É uma edição com um bom encarte e dois CDs. O original, remasterizado e outro, bônus, com algumas coisinhas interessantes que escrevo algumas linhas aí pra baixo.

Me assustei pelo preço que encontrei na Amazon (130 dólares), aí percebi que existe a versão "crème de la crème", com 4CDs, um vinil, um livro e mais uma cacetada de coisa, que vemos aí abaixo:

Reprodução / bravewords.com





Aqui falamos de uma edição mais enxuta, para fãs menos endinheirados, mas mesmo assim não menos curiosos por raridades, b-sides e versões alternativas da maior banda de rock'n'roll, quando estava em seu auge (que considero de 1967 a 1978, enquanto a maioria infelizmente se prende entre 1969 e 1974).

A CD 1 dispensa comentários, é chover no molhado sobre um dos grandes trabalhos da história do rock. Ele entra em qualquer Top 5 (Top 3?) dos Stones e celebra talvez o auge blueseiro do grupo, que continuou presente nos anos seguintes, mas amealhou outras influências.

No CD 2, começamos com Brown Sugar, gravada no estúdio, com Eric Clapton fazendo steel guitar. Versão diferente, com um final interessante, com menos sax e menos vozes de Jagger, com as três guitarras dialogando surpreendentemente. Wild Horses, rotulada de "versão acústica" é sublime como sempre foi. Imagine a versão que a banda vez no disco Stripped (1995) e dê a ela uma vitalidade de 24 anos. É isso.

Can't You Hear Me Knocking ainda tem seu riff matador, mas é uma versão mais curta, desleixada / charmosa como se fosse gravação de ensaio. Após a pedrada de Bitch, temos uma versão maravilhosa de Dead Flowers, que é menos country (nada contra) e mais folk, com a guitarra de Keith Richards se sobressaindo com propriedade.

Daqui em diante, é um registro de um show em 1971. Live with Me, Stray Cat Blues, Love in Vain, Midnight Rambler e Honky Tonk Women. Já ouvi outros registros de shows da banda no início dos anos 70 (ouçam os discos Get Yer Ya-Ya's Out! de 1970 e Brussels Affair, de 1973, por favor) e é sempre o "deluxe do deluxe". Sempre com algum improviso e uma vitalidade que impressionam. É o grupo desfilando seu melhor repertório, na época em que estavam na sua melhor forma. Não tem erro.

E aqui não é diferente. Dois exemplos: Live With Me ganha mais piano no início e mais metais no fim. Love in Vain apresenta um solo de guitarra inacreditável (de Mick Taylor, presumo). Com seus quase 12 minutos, Midnight Rambler celebra o melhor do blues.

Serve para fãs, iniciantes e iniciados quando o assunto é Stones. É um disco fundamental e um retrato de uma banda que era simplesmente espetacular em estúdio e no palco. O pouco que resta dela virá ao Brasil em 2016. Vale a pena para quem nunca viu.

Mas a essência está aqui neste CD, nos 4 álbuns anteriores e nos 5 trabalhos posteriores. Dez obras do melhor que existe no rock and roll.

A versão alternativa de Brown Sugar, abaixo:
 



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Músicas quase esquecidas #2

reprodução / mercadolivre.com.br

Quando passei no vestibular na UFMG para Ciências Sociais, fui aprovado para estudar no segundo semestre. Então, tinha cerca de seis meses pra não fazer porra nenhuma para fazer algumas pendências que postergava até então, como tirar carteira de motorista e curtir as férias prolongadas. Fiz isso em Itabira/MG. Morei por uns 2 ou 3 meses na casa dos meus avós.

Foi a melhor e pior coisa que já me ocorreu. Melhor porque pude conviver com meus avós, tios e primos de lá e isso é sempre legal. Pior, porque meus avós são de uma época, que ter saúde é ser gordo. E minha avó cozinhava muito bem. Fazia o melhor cachorro quente que já comi. E o melhor sorvete. E bolo de chocolate... Enfim... Sempre quis agradar os netos. Nem lembro quantos quilos ganhei, mas foram vários. Era um obeso feliz.

Eu tinha um disc-man (!) e meus cds tinham ficado em BH. Precisava ouvir alguma música e fui atrás de alguns CDs. Fui em uma lojinha de cds na Rua Água Santa (Centro), que nem existe mais e achei esse CD (da capa) bem barato (uns R$ 15).. O ano era 2000. Já conhecia e gostava muito do Jamiroquai, tanto o primeiro, Emergency on Planet Earth (1993), mais pro acid-jazz, como do The Return of Space Cowboy (1994), que já era mais experimental e variado, até o premiado Travelling Without Moving (1996), recheado de hits como Virtual Insanity, Cosmic Girl e Alright.

Este álbum da capa é Synkronized (1999), uma ruptura do que o Jamiroquai fazia. Vários músicos da banda foram trocados (saíram o baixista, guitarrista, percussionista, DJ), a banda ficou mais "farofona", mais "banda de festa", com backing vocals e tal. Mas ainda restava um ranço bacana dos discos anteriores, boas pitadas de soul, funk e disco. O acid-jazz, de fato, abandonaram.

Muitos bons momentos presentes: Canned Heat, Black Capricorn Day, Soul Education e (principalmente) Falling (música linda!) são os destaques. Mas lá pelo final do disco, eles gravaram algo que nunca tinham feito (e não fizeram desde então). Uma balada, com voz, baixo, bateria, piano e uma orquestra: King for a Day.

Até hoje é uma das melhores canções do grupo, sendo ao mesmo tempo uma música que menos faz jus ao som considerado "típico" do Jamiroquai, mas que mesmo assim reforça como a banda sabia/sabe passear por diversas vertentes.

Após este trabalho, o nível dos discos caiu consideravelmente (se salvando alguns hits excelentes, como Seven Days in Sunny June e You Give me Something). As coisas voltaram aos eixos no ótimo Rock, Dust, Light, Star (2010), mas isso fica pra outro texto.

Assistam abaixo o videoclipe de King for a Day:



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Músicas quase esquecidas #1

Reprodução / factmag.com

Existia um sebo na Savassi, em Belo Horizonte, que se chamava "Páginas Antigas" (rua Fernandes Tourinho, onde hoje é uma papelaria/livraria). Começou com livros e logo percebeu que comprar e vender CDs usados era uma ótima opção, pois comprava por R$ 4 ou R$ 5 e vendia pelo dobro, ou próximo disso. No final da década de 90, eu ia lá uma ou duas vezes por semana, conferir as "novidades".

Pois é, nessa época, o Smashing Pumpkins, banda que James Iha fez parte em seu melhor momento, era talvez a maior banda dos EUA, após o excepcional Mellon Colline and the Infinite Sadness (1995) que vendeu por lá mais de 10 milhões de cópias. Eu, que já era fã da banda, vejo esse cd amarelinho na estante e comprei, por R$ 12,50 se não me engano.

É um bom álbum (lançado em 1998), porém nada excepcional (acho o posterior dele, o Look to the sky, de 2012, melhor), mas tem algumas canções bem interessantes. É um disco calmo e alegre, bem diferente do clima de "melancolia e infinita tristeza" dos Pumpkins.

A ótima Be Strong Now foi a música de trabalho pra rádios, videoclipes, etc. Mas recomendo a faixa seguinte, Sound of Love, uma pequena preciosidade, quase esquecida. Iha está feliz e isso reflete na música leve, ensolarada, com belo refrão e bons arranjos. Confiram abaixo.