sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Scott Weiland e a morte definitiva do Stone Temple Pilots

Créditos: Stylebistro.com / Reprodução


A notícia da morte de Scott Weiland, aos 48 anos, entristece, mas não surpreende. Quem acompanha a trajetória dele, marcada por excessos de toda a natureza, sabia que sua morte poderia acontecer cedo ou tarde, mesmo ainda sem ter a certeza se ela foi por decorrência do consumo de drogas ou não.

O importante, principalmente nesse espaço, é da obra, do legado que ele deixou. Nunca fui fã do Velvet Revolver, apesar de reconhecer que ali tinha até alguns momentos interessantes. Mas no Stone Temple Pilots, eles foram muito além de "mais uma banda que parecia o Pearl Jam". Primeiro, porque o tempo mostrou que não parecia tanto assim. Segundo, em virtude de suas músicas, principalmente nos três álbuns iniciais Core (1992), Purple (1994) e Tiny Music... Songs from the Vatican Gift Shop (1996), apesar de eles terem coisas bem legais ainda nos trabalhos posteriores, como Days of the Week, de 2001 e Dare If You Dare (2010).

O Stone Temple Pilots nos últimos anos, sem ele, é outra banda com seus acertos e erros. Ele era a voz da banda, muito além de ser o vocalista. Mas ele podia voltar, ele sempre poderia voltar, como voltou em 2010, para sair logo em seguida. Agora não voltará mais. É o fim de um ciclo.

Ainda adolescente, eu tinha a mania de gravar em fita VHS os videoclipes e shows que passavam na TV. Cultivei esse hábito por anos. Foram dezenas de fitas (cerca de 70 ou 80), com 6 horas de material em cada. São milhares de músicas e shows, todos catalogados e guardados em algum lugar na casa da minha mãe.

A primeira música, da primeira fita, era essa aí abaixo. Fica meu agradecimento e reconhecimento por tudo o que fizeram. Obrigado, Scott. Descanse em paz.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Foo Fighters na zona de conforto

Reprodução / foofighters.com


Ontem o Foo Fighters disponibilizou em seu site o EP Saint Cecilia. São cinco faixas e nenhuma surpresa. A banda não ousa, simplesmente trafega em sua zona de conforto, trazendo canções que ficam ali na média, meio sem dizer muito, mais mesmo para pontuar o fim de um ciclo do grupo.

A faixa-título ostenta os mesmos ingredientes que fizeram eles serem quem são. Aquele rock palatável, refrão grudento, baixo acompanhando a voz e as guitarras e bateria crescendo no momento certo. Sean podia estar ali no One by One (2002) tranquilamente. Não acrescenta em nada, um b-side que mereceria ser b-side se este EP não existisse.

A "Motorheadiana" Savior Breath é um pouco mais ousada, suja e interessante. Aí começa Iron Rooster e sim, enfim, um grande momento. A banda prossegue afiadíssima nas canções mais lentas e esta lembra alguma das melhores que já fizeram. Ela poderia estar ali no Echoes, Silence, Patience and Grace (2007) ou mesmo lá no In Your Honor (2005), na seção acústica.

The Neverending Sigh segue a cartilha de Saint Cecilia. Não há um espanto, não surpreende. Não é como Wasting Light (2011), que realmente foi um assombro, recheado de belas composições. E também está longe de um There is Nothing to Lose (1999) e sua coleção inesgotável de hits. Parece que juntarem uns b-sides e deu nisso aí. Parece que tinham algumas diárias ainda no estúdio que alugaram e resolveram gravar isso aí, antes da galera recolher os instrumentos e cada um tomar o seu caminho nas férias.

A banda deve dar um tempo, pra cada um cuidar da sua vida e realizar outros projetos (Dave Grohl vai tocar em 58 projetos diferentes, dirigir algum documentário e gravar outros discos com outras pessoas, Taylor Hawkins vai surfar, Nate Mendel deve fazer uns shows com sua antiga banda, Pat Smear deve curtir as noites e não faço ideia no que faria o Chris Shiflett).

Esta pausa pode ser boa para o futuro reencontro do grupo. Wasting Light foi assim e deu muito certo. Às vezes, eles saem do piloto automático e se permitem arriscar um pouco mais. Pois qualidade e recursos para isso, eles possuem de sobra. A questão é se de fato é isso que eles desejam.

Ouça a música Iron Rooster:




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Músicas quase esquecidas #4

Créditos: alternativenation.com / Reprodução

Aproveitando a passagem do Pearl Jam pelo país, prossigo esta série com eles. A banda possui uma porção de músicas lindas. Escolhê-las não é uma tarefa das mais fáceis. Resolvi filtrar apontando o meu álbum preferido deles o Yield (que não é o melhor da banda, porém) e que foi massacrado pela crítica, ao menos quando foi lançado.

Dentre muita coisa legal, escolhi Faithfull. Não é pelo nome, de algo que tanto falta na humanidade nestes tempos cascudos, mas sim pela música, que é linda, que emociona, que te abraça.
Até de coisas mais sutis, como os timbres das guitarras, timbre da caixa da bateria, do bumbo, dos pratos, do baixo, combinam com o do que mais gosto. Uma bela construção.

A banda tem várias baladas dignas de nota, não consigo mensurar qual gosto mais, mas esta, junto com este álbum, teve um efeito devastador em mim. Como uma avalanche de lama, que me varre, altera e transforma uma paisagem.

Ouça a música:


 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Músicas quase esquecidas #3

Créditos: rollingstone.com / Reprodução

O ano era 2001. Eu trabalhava em uma locadora de CDs e DVDs (saudosa CD Point). Os caras importaram esse álbum acima para a locação na loja. Não conhecia o artista. Claro, como quase todo mundo, brinquei com a semelhança do nome desse tal de Ryan Adams com o já conhecido Bryan Adams.

Assim que escutei o disco (Gold, segundo da carreira que já somam 15, em 15 anos), perdi o chão. Trafegando nesse terreno entre o rock'n'roll, o country rock, o blues e o folk, é/era basicamente as coisas que mais gosto/gostava de ouvir. Para um velho fã de Creedence Clearwater Revival e Neil Young, era um sopro de vitalidade nas músicas que gostava (adendo: o Wilco é um capítulo à parte).

O álbum é muito bom e existem muitas canções ali que poderia apontar, e que talvez apontarei em postagens futuras, como Firecracker, Answering Bell, Touch, Feel and Lose e The Rescue Blues. Mas naquele primeiro momento, em que atendia a clientela, uma me chamou particular atenção, pois eu atendia o cliente por alguns minutos e ela ainda estava ali, ecoando nas caixas de som.

Nobody Girl é uma canção com letra subjetiva e que vai crescendo gradativamente, sem cansar em nenhum momento, em seus quase 10 minutos de duração, que sinceramente, são poucos. Arranjos primorosos, ótimos timbres de guitarra e bateria (que infelizmente ele não mais os utiliza hoje) e muita emoção em cada acorde sublinham essa linda música, fadada ao esquecimento, na qual o refrão só chega a plenos pulmões aos 3'30'', quando um terço dos músicos famosos da humanidade já encerravam suas músicas.

Reserve este tempo e divirta-se. Confira abaixo a música.



terça-feira, 27 de outubro de 2015

20 anos de um disco absolutamente indescritível

Créditos: npr.org / reprodução

Um chute na porta, um soco na cara, uma cabeçada no peito. Uma força até hoje pouco compreendida faz de Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) a essência de uma geração, o retrato de um grupo em seu auge, que se perdeu em influências tão díspares e obteve uma sensibilidade ímpar em canalizá-los, sem tirar o pé do acelerador. Rocks contundentes, baladas de cortar os pulsos e tem ainda orquestração, música instrumental, muita distorção, eletrônica, violões, uma miscelânia indescritível que até hoje emociona, faz rir, chorar. Não há um porquê.

Eu era moleque. Foi o primeiro álbum que conheci deles. Paguei R$ 23,90, um preço absurdo para a época (na Acústica CD's Shop, loja que ainda existe na Savassi, em BH). Clipes rolando aos montes na MTV, um melhor que o outro, músicas absolutamente distintas, mas todas eram (e ainda são) absurdamente belas: Bullet With Butterfly Wings, Tonight, Tonight, 1979, Zero, Thirty-Three. Cinco singles majestosos. Lembro que escrevi uma resenha na época (não lembro se foi pra jornal, revista, blog, era ali em meados de 2000, creio) e cravei que das 28 músicas, "20 eram excepcionais". E escutando agora, 20 anos e 3 dias depois, percebo o quanto esse álbum continua necessário e envelheceu bem.

Na época em que as festas durante as tardes eram vazias, ao mesmo tempo em que me empolgava cada vez mais com o britpop e o grunge, veio este cd que sepultou o (bom) trabalho que faziam até então. Pegaram essa crueza dos dois primeiros trabalhos e colocaram mais peso, mais barulho. Ao mesmo tempo, retiraram boa parte do peso que lá havia. Acrescentaram pitadas de rock progressivo, heavy metal, folk e New Order. Estava fadado para a incompreensão. Mas vendeu mais de 20 milhões de cópias na época e jogou o grupo em outro patamar, de onde ele lutou para se situar nos anos seguintes, mas acabou sendo implodido de dentro pra fora. Hoje, Billy Corgan cansou de juntar os cacos e curte mais quebrar vidraças. Bola pra frente.

Destrói a mente, destrói o corpo, mas jamais destrói o coração. Em um imenso poço de "melancolia e infinita tristeza" ainda havia uma luz, havia algo bom, que se contrastava com o clima sombrio. Esse emaranhado de sentimentos se dividia entre canções formidáveis, calmas e doces que faziam ninar até um tiranossauro como Galapogos, In the Arms of Sleep, To Forgive, By Starlight, Lily e We Only Come Out at Night. O oposto, beirando o caos, na qual pregava que "amar é o suicídio" (Bodies) e (ainda) mais barulho era necessário nas ótimas Fuck You, X.Y.U., Where Boys Fear to Tread, Jellybelly e também nas quase obscuras e praticamente perfeitas Here is No Why e Muzzle. Além de duas músicas que são tão belas que chegam a doer, para ouvir sem pressa: Porcelina of Vast Oceans e Thru the Eyes of Ruby.

Um momento único para o grupo e para mim. O estrago foi feito. Eles nunca mais foram os mesmos. Nem eu. Ele mudou completamente a minha vida, está no meu top 10. Escrevi essas linhas todas, mas ele segue sendo indescritível. Desculpem pelo tempo que tomei de vocês.

Sofra do meu desejo:




quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O deluxe do deluxe: Stones em Sticky Fingers

Reprodução / blogspot.com

Não tenho muito o que dizer sobre os Rolling Stones. Primeiro álbum de rock que ouvi, grupo que mais escutei em toda a minha vida. Ostento orgulhosamente quase toda a discografia original em CD, mesmo em épocas de mp3 e o escambau. Um orgulho palatável que ganha poeira na minha prateleira, lá em Belo Horizonte.

Aí cai nas minhas mãos a versão deluxe de Sticky Fingers (1971) do grupo. É uma edição com um bom encarte e dois CDs. O original, remasterizado e outro, bônus, com algumas coisinhas interessantes que escrevo algumas linhas aí pra baixo.

Me assustei pelo preço que encontrei na Amazon (130 dólares), aí percebi que existe a versão "crème de la crème", com 4CDs, um vinil, um livro e mais uma cacetada de coisa, que vemos aí abaixo:

Reprodução / bravewords.com





Aqui falamos de uma edição mais enxuta, para fãs menos endinheirados, mas mesmo assim não menos curiosos por raridades, b-sides e versões alternativas da maior banda de rock'n'roll, quando estava em seu auge (que considero de 1967 a 1978, enquanto a maioria infelizmente se prende entre 1969 e 1974).

A CD 1 dispensa comentários, é chover no molhado sobre um dos grandes trabalhos da história do rock. Ele entra em qualquer Top 5 (Top 3?) dos Stones e celebra talvez o auge blueseiro do grupo, que continuou presente nos anos seguintes, mas amealhou outras influências.

No CD 2, começamos com Brown Sugar, gravada no estúdio, com Eric Clapton fazendo steel guitar. Versão diferente, com um final interessante, com menos sax e menos vozes de Jagger, com as três guitarras dialogando surpreendentemente. Wild Horses, rotulada de "versão acústica" é sublime como sempre foi. Imagine a versão que a banda vez no disco Stripped (1995) e dê a ela uma vitalidade de 24 anos. É isso.

Can't You Hear Me Knocking ainda tem seu riff matador, mas é uma versão mais curta, desleixada / charmosa como se fosse gravação de ensaio. Após a pedrada de Bitch, temos uma versão maravilhosa de Dead Flowers, que é menos country (nada contra) e mais folk, com a guitarra de Keith Richards se sobressaindo com propriedade.

Daqui em diante, é um registro de um show em 1971. Live with Me, Stray Cat Blues, Love in Vain, Midnight Rambler e Honky Tonk Women. Já ouvi outros registros de shows da banda no início dos anos 70 (ouçam os discos Get Yer Ya-Ya's Out! de 1970 e Brussels Affair, de 1973, por favor) e é sempre o "deluxe do deluxe". Sempre com algum improviso e uma vitalidade que impressionam. É o grupo desfilando seu melhor repertório, na época em que estavam na sua melhor forma. Não tem erro.

E aqui não é diferente. Dois exemplos: Live With Me ganha mais piano no início e mais metais no fim. Love in Vain apresenta um solo de guitarra inacreditável (de Mick Taylor, presumo). Com seus quase 12 minutos, Midnight Rambler celebra o melhor do blues.

Serve para fãs, iniciantes e iniciados quando o assunto é Stones. É um disco fundamental e um retrato de uma banda que era simplesmente espetacular em estúdio e no palco. O pouco que resta dela virá ao Brasil em 2016. Vale a pena para quem nunca viu.

Mas a essência está aqui neste CD, nos 4 álbuns anteriores e nos 5 trabalhos posteriores. Dez obras do melhor que existe no rock and roll.

A versão alternativa de Brown Sugar, abaixo:
 



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Músicas quase esquecidas #2

reprodução / mercadolivre.com.br

Quando passei no vestibular na UFMG para Ciências Sociais, fui aprovado para estudar no segundo semestre. Então, tinha cerca de seis meses pra não fazer porra nenhuma para fazer algumas pendências que postergava até então, como tirar carteira de motorista e curtir as férias prolongadas. Fiz isso em Itabira/MG. Morei por uns 2 ou 3 meses na casa dos meus avós.

Foi a melhor e pior coisa que já me ocorreu. Melhor porque pude conviver com meus avós, tios e primos de lá e isso é sempre legal. Pior, porque meus avós são de uma época, que ter saúde é ser gordo. E minha avó cozinhava muito bem. Fazia o melhor cachorro quente que já comi. E o melhor sorvete. E bolo de chocolate... Enfim... Sempre quis agradar os netos. Nem lembro quantos quilos ganhei, mas foram vários. Era um obeso feliz.

Eu tinha um disc-man (!) e meus cds tinham ficado em BH. Precisava ouvir alguma música e fui atrás de alguns CDs. Fui em uma lojinha de cds na Rua Água Santa (Centro), que nem existe mais e achei esse CD (da capa) bem barato (uns R$ 15).. O ano era 2000. Já conhecia e gostava muito do Jamiroquai, tanto o primeiro, Emergency on Planet Earth (1993), mais pro acid-jazz, como do The Return of Space Cowboy (1994), que já era mais experimental e variado, até o premiado Travelling Without Moving (1996), recheado de hits como Virtual Insanity, Cosmic Girl e Alright.

Este álbum da capa é Synkronized (1999), uma ruptura do que o Jamiroquai fazia. Vários músicos da banda foram trocados (saíram o baixista, guitarrista, percussionista, DJ), a banda ficou mais "farofona", mais "banda de festa", com backing vocals e tal. Mas ainda restava um ranço bacana dos discos anteriores, boas pitadas de soul, funk e disco. O acid-jazz, de fato, abandonaram.

Muitos bons momentos presentes: Canned Heat, Black Capricorn Day, Soul Education e (principalmente) Falling (música linda!) são os destaques. Mas lá pelo final do disco, eles gravaram algo que nunca tinham feito (e não fizeram desde então). Uma balada, com voz, baixo, bateria, piano e uma orquestra: King for a Day.

Até hoje é uma das melhores canções do grupo, sendo ao mesmo tempo uma música que menos faz jus ao som considerado "típico" do Jamiroquai, mas que mesmo assim reforça como a banda sabia/sabe passear por diversas vertentes.

Após este trabalho, o nível dos discos caiu consideravelmente (se salvando alguns hits excelentes, como Seven Days in Sunny June e You Give me Something). As coisas voltaram aos eixos no ótimo Rock, Dust, Light, Star (2010), mas isso fica pra outro texto.

Assistam abaixo o videoclipe de King for a Day:



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Músicas quase esquecidas #1

Reprodução / factmag.com

Existia um sebo na Savassi, em Belo Horizonte, que se chamava "Páginas Antigas" (rua Fernandes Tourinho, onde hoje é uma papelaria/livraria). Começou com livros e logo percebeu que comprar e vender CDs usados era uma ótima opção, pois comprava por R$ 4 ou R$ 5 e vendia pelo dobro, ou próximo disso. No final da década de 90, eu ia lá uma ou duas vezes por semana, conferir as "novidades".

Pois é, nessa época, o Smashing Pumpkins, banda que James Iha fez parte em seu melhor momento, era talvez a maior banda dos EUA, após o excepcional Mellon Colline and the Infinite Sadness (1995) que vendeu por lá mais de 10 milhões de cópias. Eu, que já era fã da banda, vejo esse cd amarelinho na estante e comprei, por R$ 12,50 se não me engano.

É um bom álbum (lançado em 1998), porém nada excepcional (acho o posterior dele, o Look to the sky, de 2012, melhor), mas tem algumas canções bem interessantes. É um disco calmo e alegre, bem diferente do clima de "melancolia e infinita tristeza" dos Pumpkins.

A ótima Be Strong Now foi a música de trabalho pra rádios, videoclipes, etc. Mas recomendo a faixa seguinte, Sound of Love, uma pequena preciosidade, quase esquecida. Iha está feliz e isso reflete na música leve, ensolarada, com belo refrão e bons arranjos. Confiram abaixo.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Wilco e sua síndrome do freio de mão puxado

Créditos: rockcabeca.com / Reprodução


Outro texto estava pronto. Era sobre Star Wars, nono disco do Wilco. Tecia duras críticas, mas também ressaltava que nem tudo estava perdido. Não sei o porquê, mas o Blogger perdeu o rascunho. Fiz um relato bonito, até. Cheio de floreios, alusões, naqueles breves momentos de inspiração que um mísero backup restabelecia meu ânimo.

Leia também (outros textos meus)

Tudo pelo ralo. Recomeço do zero. Escrevo movido pelo sentimento das músicas que ouço, no ritmo que me convém. E esse trabalho me motiva até a reescrever sobre ele, pois desde que perdi o texto, minha percepção sobre essas 11 faixas acabou mudando um pouco, ficando menos pessimistas. Mas não há motivo para festa. Este disco não está nem no céu, nem no inferno, mas a paciência no purgatório está no fim.

Fazendo uma breve recapitulação, a banda apresenta duas (ou melhor, três) fases distintas. A primeira, até 2002, na qual Jeff Tweedy recebe valiosa contribuição de Jay Bennett na construção das músicas. É a fase "Wilcão de raiz", com country, rock e folk, onde o protagonismo melódico é do violão. Os quatro primeiros discos são da época e são consenso entre todos os fãs, que são soberbos, irretocáveis: AM (1995), Being There (1996), Summerteeh (1999) e Yankee Hotel Foxtroit (2002).

Bennett saiu do grupo (e infelizmente faleceu 7 anos depois) e entraram Neils Cline (guitarra), Pat Sansone (teclado e guitarra) e o baterista foi substituído (Ken Croomer por Gleen Kotche). A banda mudou muito. É a segunda fase, com os mesmos integrantes há mais de uma década. A banda ficou mais roqueira, mesmo sem perder as raízes.

Nesse momento, o Wilco lançou meus dois trabalhos prediletos: o exemplar A Ghost is Born (2004) e o maravilhoso Sky Blue Sky (2007). Mas dali em diante, a maionese desandou. É a fase atual, na qual a banda lança trabalhos que não são ruins, mas que parecem pálidos, erráticos, que definham perto da grandeza do que até então produziram.

Wilco (The Album), lançado em 2008, para alguns foi o "primeiro disco ruim da banda". Não acho, um trabalho nota 6. Mas está abaixo dos demais, sem dúvidas. Aí veio The Whole Love (2011) que eu gosto (bastante, até), apesar de sofrer da síndrome do "coito interrompido": em várias músicas, quando o ápice parece chegar, a canção termina (não sei se culpa da banda, produtor ou de ambos). Podia ser um álbum nota 8,5 mas só alcança um 7.

Aí temos, enfim, Star Wars. Diferente do anterior, apenas se assemelha na minha decepção em alguns momentos, por interromper as músicas antes das melhores partes que poderiam vir. Fora isso, alguns tem belos momentos. Magnetized é linda, claramente influenciada por John Lennon. O início do cd também é bem bom, com a dobradinha More... e Random Name Generator (que baixo sensacional).

Taste the Ceiling é a típica canção fofa do grupo, na qual se gosta na primeira audição. Já no restante do álbum, o esforço para gostar é maior e muitas vezes, em vão. A banda às vezes se mostra acomodada, sem muita ousadia e pisando em territórios sonoros já explorados por ela mesma. Em outros, parece preguiçosa mesmo, até mesmo You Satellite, que é bem interessante, poderia ir muito além, como fizeram com maestria no A Ghost is Born ou até mesmo no The Whole Love. Parece um carro que anda com o freio de mão puxado.

Quando olhamos para o retrovisor, o que mais nos chama a atenção é o que está mais próximo de nós. No caso do Wilco, são Star Wars, The Whole Love e Wilco (The Album), nesta ordem. Sinceramente, não dá para equipará-los com o restante da discografia.

Não chego ao ponto de cravar uma 'decadência' do grupo, mas essa fórmula de ganhar um jogo por 1 a 0 jogando na retranca não me convence. Star Wars, se compararmos com outras bandas (com mais de 20 anos de estrada) que lançaram discos ruins não é um tropeço notável (como Around the Sun, do R.E.M.), nem é um álbum que já nasceu morto (como The King of Limbs, do Radiohead). Há vida, mas no "nosso 7x1 de cada dia", após duas bolas na trave, está para vir um gol contra. Está na hora da reação.

Ouça Magnetized, do Wilco:


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Blur de volta. E bem.

Créditos: emptylighthouse.com/ Reprodução

Pois é, 2015. Não dá pra esperar aquela alegria juvenil dos primeiros álbuns, o apogeu festivo de Parklife, a tremenda sacada (e flerte com a América) no lindão Blur (famoso álbum de capa amarela, quando a capa de cds ainda eram relevantes), ou quando chutavam o balde em um álbum excelente, experimental e triste (13), apesar de os singles do mesmo discordarem.

A mesma formação gravou um novo trabalho, após 16 anos (sim, tivemos o bom Think Tank, mas nele Graham Coxon participou de uma mísera música e saiu da banda). Desde então, Damon Albarn embarcou em alguns projetos (todos acima da média, bom ressaltar), Coxon gravou álbuns (irregulares, mas com muita música boa), Alex James foi cuidar da fazenda e Dave Rowntree até tocou como DJ em Brasília.

O que esperar do novo trabalho, The Magic Whip? Um pouco disso tudo (Blur alegre, experimental, Gorillaz, acústico), mas com o peso da idade. E após algumas audições, de fato tudo está ali. Menos o peso da idade, que está presente apenas na barriguinha dos integrantes do quarteto. O álbum, se mostra jovial, não da forma como Leisure (lá de 1991, o debut), mas se apresenta leve e disposto, mesmo sendo tão diverso (o que não chega a ser surpresa se tratando de Blur).

Os anos 90 estão vivos em músicas como Lonesome Street. Go Out é alegre, pop, pegajosa e tem aquela guitarra maravilhosamente suja de Coxon. As boas Ice Cream Man e Pyongyang caberiam facilmente no 13. O Blur sempre tem uma música mais agitada/guitarreira (lembram de Crazy Beat, Chinese Bombs, B.L.U.R.E.M.I.,  Bank Holiday?), a deste disco é I Broadcast.

Baladas sempre fizeram parte e aqui estão muito bem representadas:  My Terracotta Heart, New World Towers Thought I Was a Spaceman. A linda Ghost Ship podia ser Gorillaz (apesar da guitarra de Coxon ser bem peculiar). Ong Ong é outra faixa mastigadinha, palatável, agradável, fácil de gostar para fãs antigos e novos.

Há uma teoria que desde o cd Parklife (1994), a ultima faixa de cada álbum é uma pista de como será o próximo ou de como será a banda. Nessa onda, Mirrorball prevê um futuro interessante, porém um pouco nebuloso.

Cada música é envolvida por diversas camadas sonoras compostas de sirenes, diálogos, toques de telefone, piano e outras esquizofrenias da banda, portanto escutá-lo com fones de ouvidos deixa The Magic Whip ainda mais interessante. Não esperem hinos como The UniversalTender ou Charmless Man. Mas ainda assim, são boas canções que deixam claro que o retorno do grupo valeu a pena.


Assista ao videoclipe de Go Out:

terça-feira, 28 de abril de 2015

Noel Gallagher canastrão, mas ainda competente

Reprodução / euescuto.com.br

Nesse momento que este texto e más traçadas linhas é divulgado, boatos (novamente) da volta do Oasis estão fortes. Enquanto isso, o cérebro da turma, Noel Gallagher lançou no início do ano seu segundo trabalho com os High Flying Birds,  Chasing Yesterday é o nome do álbum, mas na verdade pauta não só este trabalho, mas como toda a carreira do músico. Mesmo quando quer dar um passo adiante, Noel dá uma piscadela para o passado. Isso está claro em toda sua carreira (desde Oasis) e mais do que nunca neste álbum.

"Voando Alto", resenha do show de Noel Gallagher's High Flying Birds no RJ em 2012

Outro sintoma importante deste trabalho é de como Noel está cada vez mais focado nas composições, nas melodias e menos em seu ofício de guitarrista. Isso já ficou claro no primeiro trabalho, mas agora está ainda mais latente. Riverman é o baixo que se destaca, além do leve flerte de Wonderwall no início (e da letra, com o início de Something dos Beatles). Merece registro o sax bem canastrão, bem Sting ao final.

In the Heat of Moment é o chiclete que gruda e faz cantar, mesmo sem emocionar. The Girl wih X-Ray Eyes vale pelo baixo (de novo!). Lock All the Doors lembra Morning Glory (do... Oasis).

Os destaques são: The Dying of the Light com bela letra e melodia. Ponte e refrão do jeito que Gallagher ensinou em seus melhores momentos. Boa surpresa também é The Right Stuff e seu estilão meio jazz (canastrão, algo que Noel não curtia). Solo de guitarra no fim, mas perceba: é pouco perceptível. E o sax, novamente presente.

É um trabalho melódico, na maior parte calmo, com alguns lampejos do que Noel Gallagher sabe fazer de melhor. Não é um trabalho ruim, mas é nítido que ele pode ir além. Se é um esgotamento e por isso o Oasis pode em breve se reagrupar, só o tempo irá dizer.

Mas fica um gostinho de que podia ser melhor, apesar de seus bons momentos. Impossível impedir de Noel de perseguir o passado. Só precisa de um pouco mais de afinco.

Assista ao videoclipe de Ballad of Might I de Noel Gallagher's High Flying Birds:



sábado, 28 de março de 2015

Smashing Pumpkins em 2015: um show conveniente

Brian Rasic / REX


Há alguns dias tive uma ótima discussão com amigos no Facebook após postar o vídeo do show do Smashing Pumpkins no Chile. E ontem pude conferir ao vivo a apresentação da banda, em Brasília.

O show ocorreu no Net Live Brasília, que recebeu cerca de 3 mil pessoas (no meu olhômetro), ou 50 mil de acordo com a PM, metade de sua capacidade. O som no local estava apenas razoável, mas de acordo com relatos, "melhorou muito" em relação aos outros shows no mesmo local. A fama de "sauna" não se justificou, lá dentro estava um clima agradável (também favorecido uma noite fresca, com temperatura em torno dos 18 graus na hora do show).

Sobre a banda, serei econômico. É um grupo que marcou os anos 90, com um álbum simplesmente extraordinário (Mellon Collie and the Infinite Sadness, de 1995) e os demais "apenas" muito bons até 2000, quando a banda acabou.

Aí concordo com o Mauricio Angelo quando afirma que desde então, ninguém freou a megalomania do Billy Corgan. Com isso, aparecem trabalhos até aceitáveis como o Oceania (2012) com outros que deixam bastante a desejar, como o Zeitgeist (2007).

Assista a banda tocando 1979 em Brasília:



Pois bem, a pergunta que vocês me fazem. Se vale a pena ver o show? Sim, vale. A banda apresenta alguns hits de forma apenas correta, mas que sacia de certa forma a saudade dos fãs. A formação é enxuta e os demais músicos são discretos, meros coadjuvantes. Cerca de metade do setlist são de canções pós-2000. Aí entra a conveniência: você pode ir pra fila da cerveja sem pressa (até porque o atendimento no Net Live deixou a desejar) e se abastecer. Passei uma parte do show ali na fila, acompanhando as músicas novas, que até não são ruins, mas é uma safra bem inferior que a dos anos 90.

Se você parar pra pensar que pagou ingresso pra ver apenas 8 músicas muito boas, você pode até questionar. Mas quando escuta 1979, Bullet With Butterfly Wings, Ava Adore, Cherub Rock, Stand Inside Your Love, Today, Disarm e Tonight, Tonight, percebe que valeu a pena.

Sim, quase imperdoável não tocar The Everlasting Gaze, Zero, Perfect ou até mesmo alguma outra balada como Thirty-Three. Mas Billy Corgan cria e segue suas regras, para o seu próprio mundo. Cada show é uma surpresa. Há 5 anos, no Festival Planeta Terra, ela foi negativa. Agora, com baixas expectativas, o show foi aceitável, conveniente.

Mas não olhe no retrovisor, é uma covardia comparar este grupo com o de 20 anos atrás, como é também nos compararmos com nós mesmos, em 1995. Era outra banda e nós, outras pessoas.

p.s.: não perdi meu tempo assistindo o Young the Giant, valeu mais a pena beber cerveja na porta.







sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Melhores de 2014


Créditos: cifras.com.br

Desde 2002 já é tradição. Chega janeiro e faço o meu manjado ranking com o que de melhor eu escutei no ano anterior. E a foto do post, sempre é do primeiro colocado que fica fora do Top 20. Pois é, o Maroon 5 abocanhou a 21ª posição com o popzão V.

Em 2014 foi o ano em que estive fora da imprensa, portanto inevitavelmente o número de álbuns que escutei foi menor, cerca de 60, sem contar aqueles que ouvi uma vez e achei tão ruim, que deletei e nem contabilizei...

Sem mais delongas, vamos ao ranking...

20º lugar: Weezer - Everything Will Be Alright in the End




19º lugar: OFF! - Wasted Years




18º lugar: Santana - Corazon




17º lugar: Foster the People - Supermodel




16º lugar: The Kooks - Listen




15º lugar: AC/DC - Rock or Bust




14º Tom Petty & The Heartbrakers - Hypnotic Eye




13º Lily Allen - Sheezus




12º Blues Pills - Blues Pills

Link: https://www.youtube.com/watch?v=ML9ah9JR7M8  

11º Linkin Park - The Hunting Party




10º Pink Floyd - The Endless River

Belo registro para terminar dignamente uma carreira gloriosa.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=5rRyaiDoeoY 

9º Jack White - Lazaretto

O incansável White mantém sua média e lança mais um bom trabalho.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=qI-95cTMeLM&list=PL1mLWBwR-P2s76yM9J-K3X5_jhxkI0Cgs 

8º The War on Drugs - Lost in the Dream

O maior hype do ano não contagiou a ponto de chegar ao top 5, mas é inegável a qualidade deste álbum.



7º Damon Albarn - Everyday Robots

Albarn calmo, contemplativo, reflexivo e soberbo.



6º Beck - Morning Phase

Beck volta a soar calmo, acústico e faz (mais) um belo cd.



5º Mombojó - Alexandre

Ousados, experimentais, psicodélicos e malucos. Outro álbum difícil e bacana dos pernambucanos.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=BoYsVwKArSQ&list=PLFSvS2UvIClkguKERzYV_hbJ_A4m1qgOO

4º Bruce Springsteen - High Hopes

Um disco de sobras do Bruce chegar ao top 5 é um duplo alerta: primeiro, que ele tá sobrando; segundo, que o rock não anda nada bem.



3º Johnny Cash - Out Among the Stars

Disco inédito, tirando a poeira de uns 30 anos. E sensacional.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=BoQ5KI_ZNLU&list=PLXp0lHeE5CnqC1GShFKTPgibmDWkhRatf

2º Ryan Adams - Ryan Adams

Talvez ele seja a grande esperança do rock/folk/country/blues americano na atualidade. Esse nem é o melhor álbum dele, mas o cara é tão bom que chega ao pódio.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=H1TvsCMyL5A

1º Spoon - They Want My Soul

Sem palavras ao amigo Maurício Angelo, que me apresentou esta banda no ano passado. Trabalho irretocável da primeira até a última faixa.

Ouça na íntegra o álbum do Spoon:




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p.s.: não faço ideia onde postei meus rankings de 2008 e 2009... =/