segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Boyhood - o longo filme que acabou cedo demais

Reprodução / mrcsays.com


Se você se ausentou do burburinho, resumirei em poucas linhas: esse filme demorou 12 anos para ser feito, com o mesmo elenco. Retrata o crescimento de uma família, focado no garoto Mason, dos 6 aos 18 anos de idade. Só isso, já faria o filme ser imperdível, pois ele já é lançado sendo um vencedor, ultrapassando incertezas do mercado, de financiamentos e até mesmo de o elenco e o roteiro continuaram em pé. E estão lá.

Para um filme que demorou esse tempo, filmando 3 ou 4 dias por ano, ele ter 2 horas e 45 minutos de duração é muito pouco. É claro que é um filme um pouco longo para os padrões de Hollywood, mas quando você o assiste, percebe-se que é pouco. Esse filme tinha que ser um seriado com no mínimo 12 temporadas, ele te arrebata fácil.

Só as referências pop já valem assistir Boyhood (2014), em cartaz nos cinemas (com distribuição ainda pequena). A trilha sonora é matadora e segue o cronograma. Começa ali com Coldplay (do primeiro álbum) e Hives (hit antigão). E tem WilcoPaul McCartney, Bob Dylan, Arcade Fire, Flaming Lips, Vampire Weekend, dentre várias outras pérolas. A cena do pai criar o "Black Album" dos Beatles pode parecer boba (com uma coletânea dos trabalhos solo após o fim do "Fab Four"), mas funciona. A cena no cinturão bíblico, no qual Mason é apresentado para a Bíblia e para as armas é impagável, mas os spoilers param por aqui. É real, é um retrato do país e de muitas famílias.

O grande mérito é você perceber que o trabalho começou a ser filmado em 2003, então um retrato da política (campanhas do Obama), a tecnologia, a moda e os hábitos daquela época. Você se enxerga. O primeiro iPod, a troca dos celulares analógicos pelos smartphones, das TVs de tubo pelas atuais... Ao mesmo tempo algumas coisas não mudam: as mentiras, as desculpas para ir para uma festa e chegar mais tarde, o truque do chiclete após fumar, o embaraço em ser adolescente e ter que ouvir sobre sexo. O filme é delicioso, porque pais, mães e filhos se retratam a todo momento. É atemporal.

São problemas reais que acompanham a família, da mesma forma que nos acompanham. O cinema tem o mérito de criar um mundo à parte no qual somos inseridos e nosso deleite é estar fora da nossa rotina por cerca de 2 horas. Boyhood é exatamente o oposto: é resgatar tudo o que vivemos: os dramas, as brigas, os vícios, as alegrias de uma família como qualquer outra, que guarda grande semelhanças com qualquer família de classe média mundo afora.

Sei lá se vai ganhar o Oscar, pois não é um filme tecnicamente irretocável e não ostenta orçamentos majestosos, nem mesmo para caprichar no lobby para angariar votos. Mas é um filme que emociona, que assim que acaba, você lamenta por chegar ao fim.

Pode não ser o melhor filme do ano, mas é uma obra que dificilmente você vai esquecer. Um pequeno clássico de 165 minutos.

Assista ao trailer: