sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Incubus em BH: comportado e agradável

Luciano Viana / Divulgação

Na última quinta-feira, 12 de dezembro, os norte-americanos do Incubus se apresentaram pela primeira vez em Belo Horizonte, enchendo pela metade o Chevrolet Hall, reunindo entre 2,5 mil e 3 mil pessoas (estimativa do meu olhômetro, que já viu um bocado de shows por ali).

A banda é conhecida pela criatividade, improvisos e técnicas de seus álbuns e esta expectativa obviamente se transfere para o palco. Porém, após o mais recente trabalho, o bom e intimista If Not Now, When?, no qual a banda pisa no freio e (quase) solta uma obra de MPB, percebe-se que o grupo no momento está com outra mentalidade e proposta.

Do último álbum, foram três músicas, ótimas chances de ir ao bar pegar cerveja (mas não deu certo, em virtude das filas, explico detalhadamente mais abaixo). Vários hits foram executados fazendo a alegria do público, como Wish You Were Here, Drive, Talk Shows on Mute, Nice to Know You, Megalomaniac, Stellar, Anna Molly e Dig. Boa parte do público presente era da faixa de 25 a 35 anos, o que me fez (e muitos outros) voltar no tempo em dez anos, quando frequentava o Matriz e via shows de hardcore, grunge e o que mais aparecia, com várias bandas tocando Incubus e amizades surgindo ali, para serem fortalecidas nesta nublada noite de dezembro de 2013.

Para quem nunca viu um show do grupo, certamente o saldo foi positivo e agradou: os caras continuam tocando bem, Brandon Boyd permanece com excelente voz e o repertório (apesar da ausência de pérolas como Circles, Love Hurts, Oil and Water e Pistola) agradou.

Para quem já tinha visto a banda nas outras duas vezes que esteve no Brasil (2007 e 2010), ficou um gostinho de que poderia ser melhor, o grupo poderia ter se “doado” mais no palco, sendo menos comportado e com o repertório menos engessado (quase sem alterações para os demais shows da tour).

Ao final o saldo é positivo, agora é esperar 2016 (pois parece que eles gostam de vir a cada 3 anos) para perceber se voltarão a ser agressivos (como nas origens funk rock e new metal) ou se vão aprofundar nesta proposta mais “amena”.

Estrutura

O Chevrolet Hall continua sendo a maior sauna coletiva de Minas Gerais, talvez do Brasil. Mesmo com metade da lotação, o desconforto com o calor é enorme.

Outro queixa (eterna) são os filas nos bares. Eles não permitem que a pessoa compre fichas, a cada momento que você precisa consumir, precisa pagar. Não sei quem foi o JENIO que implantou isso, só posso parabenizar. Queria comprar 4 cervejas, levaria uma e pegaria três fichas. Mas NÃO. Eu tenho que pegar 4 vezes a mesma fila (que demora não menos que 10 minutos, com a casa com 50% da lotação, ressalto) pra comprar a mísera cerveja. Tal iniciativa une o inútil ao desagradável, pois irrita a clientela e o bar obviamente vende muito menos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Goiânia Noise e sua 19ª maratona musical

Créditos: Marcelo Costa / Scream & Yell

Lá se vão 19 anos. E o Goiânia Noise Festival nunca decepciona: apresentou nomes emergentes da infinita cena goiana e levou aos palcos, alguns dos nomes mais interessantes da música independente nacional nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, em Goiânia, reunindo mais de 3 mil pessoas tendo The Exploited (Inglaterra), Mixhell (SP) e Krisiun (RS) como headliners.

Foram quase 50 bandas, a grande maioria de Goiás. É um trabalho praticamente impossível assistir a todos os shows, sendo que é precisei entrevistar os grupos (enquanto outros tocam), interagir com os amigos que sempre encontramos por lá, sem falar das necessidades elementares de comida e aquela cerveja fundamental para acompanhar sobriamente tal maratona.

A Monstro organizou o festival ocupando o Martim Cererê da forma clássica e tradicional: dois anfiteatros alternando shows de 30 minutos, telão, ar condicionado que funciona e o som extremamente bem equalizado em quase todos os shows, algo louvável. As opções de alimentação eram boas e principalmente fartas (o macarrão era simplesmente absurdo).

Destaques

Dentre dezenas de bandas vale ressaltar o bom “stoner goiano” do Mad Matters, o rock setentista de grande qualidade do Diablo Motor (PE) e o Galo Power (GO), pincelando o melhor do classic rock, blues e hard rock. No sábado, Tarso Miller and the Wild Comets (MG) transformou o anfiteatro em um legítimo saloon do country; o 2 Dub (DF) fez um show interessante (repaginando clássicos do rock para o dub) no lugar errado (o Noise é um festival que prima pelas bandas autorais, então soou meio deslocado, a menos para mim); o Mad Sneacks (MG) reviveu o grunge; já o Ação Direta (SP) e o Walverdes (RS), bandas tradicionais, encheram os anfiteatros com boas apresentações (já aguardadas, por sinal). O Mechanics (GO) surpreendeu com duas baterias e doses acachapantes de barulho.

No domingo, o Grieve (GO), terceira banda a subir no palco, já chamou a atenção para um dia promissor. A banda Rios Voadores (DF) fez um show bem interessante, abusando (até demais) da psicodelia. O Johnny Suxxx and the Fucking Boys (GO) atraiu ótimo publico (principalmente feminino), com seu glam rock bem peculiar. Os goianos do Versário e Space Truck despejaram suas boas influências do rock clássico, ora mais flertando com o pop (como a primeira), ora mais progressivo (a segunda).

TOP 5:

Fuzzly (MT)
É um trio, mas parecia um quarteto, ou quinteto. Pois sempre tinha um roadie no palco, ora para segurar o bumbo, ora para (em vão) tentar fixar os suportes de pratos da bateria, tamanha a agressividade do grupo, a começar pelo baterista. Black Sabbath, stoner rock e psicodelia fizeram a trilha sonora de um show avassalador, até melhor do que o de Cuiabá, que presenciei há mais de 7 anos.

Galinha Preta (DF)
Não tem erro. Grindcore com letras bem acima da média e humor sob medida. Público lotou o anfiteatro e os brasilienses atenderam aos anseios do público, sem se esquecer dos tradicionais e bizarros bonecos de posto.

The Baggios (SE)
Uma dupla (voz e guitarra + bateria). As comparações com White Stripes são inevitáveis, mas aqui há um baterista de verdade. Muita distorção, pegada e peso em uma apresentação acachapante.

Overfuzz (GO)
Ótimo público que pulava, agitava e acompanhava a enérgica apresentação deste Power trio goianiense, que bebe na fonte do Motörhead mas vai além, fazendo um som pesado e bem trabalhado, exigindo bastante do pescoço da plateia.

Shotgun Wives (GO)
Bela surpresa, passeando com muita animação pelo folk e country, com um público já cativo para uma banda que nem completou um ano de vida. E ainda fizeram uma cover oportuna (I Saw Her Standing There, dos Beatles) e outra surpreendente (Ace of Spades, do Motörhead).


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Estranhas direções do pop

Columbia Records / Divulgação

Cresci em uma geração na qual boybands eram sinônimo de música divertida (e nem sempre boa) e (quase sempre) descartável. Que após alguns anos ridicularizando, quando eles ficam mais velhos e barrigudos, aí nós temos coragem de admitir nossa "guilty pleasure" e acaba sendo cool.

Quando criança, acompanhei o finalzinho do New Kids in the Block. Anos depois, peguei a febre de Spice Girls e Bakstreet Boys (e suas variações, como N’Sync e Five), sempre com algum desdém. Músicas com refrões pegajosos mas que seguiam um padrão típico, quiçá preguiçoso, como que se as audiências não fossem rigorosas e aceitassem qualquer coisa. A imagem era bem vendida e os hormônios levavam para a idolatria, já bastava e funcionou muito bem. A bateria era eletrônica, os arranjos, pueris, não havia uma grande preocupação melódica, em tentar fazer algo interessante e mais hum, instigante.

Desde então, passo à margem dos grupos que surgiram posteriormente. Até a Ana Clara (do Rock’n’Beats) postar no Facebook um post de um gringo elogiando horrores o One Direction, mais um grupo de garotos com rostos bonitinhos e tal. Li dois parágrafos e não botei fé, pensei que fosse algum amigo deles, um "crítico amigo", como existem por aí. Mas baixei o álbum e deixei -o “na fila” para um dia ouvir e me arrepender de ter escutado.

Aí meu chapa Bruno Capelas (do Pergunte ao Pop), endossou a Ana Clara, postando o link pra uma música deles, a Little Black Dress, que segue aí abaixo. Sim, era boa. Com bateria, guitarra, pop até o caroço, mas não necessariamente adolescente. Aí tive que conferir Midnight Memories, terceiro álbum do grupo.


Na primeira audição, a pergunta: "o que está acontecendo"? Essa mudança já estava ocorrendo ou peguei o bonde andando?

 Best Song Ever é pop que não deve nada ao que o melhor do mainstream é feito por aí. Story of My Life é um folk. Sim, FOLK que qualquer banda “respeitada” ou “adulta” do rock faria. Já Diana poderia ser um b-side esquecido e renegado de Bruno Mars (e isso é um baita elogio).  Enquanto You & I derrapa nos clichês de uma balada para as AM’s, Don’t Forget Where You Belong, acerta em cheio. Better than Words, que encerra o trabalho, poderia ser do Lenny Kravitz, fácil, fácil.

A segunda metade do álbum piora e MUITO.  Sim, às vezes alguns trejeitos das boybands antigas aparece: a faixa-título, apesar das muitas guitarras, parece bastante com Five. Em Strong, falta força. Happily é um baita clichê de canções alegres para as meninas. Through the dark também não desce.

Não estará nas listas de melhores do ano, mas apresenta cinco ou seis músicas que realmente chamam a atenção, talvez para novos tempos do mercado que consome música pop. Se a digestão precisa ser rápida, ela pode ter mais requinte, mais zelo. Enfim, mais qualidade.

Se você gosta de música pop, abaixe a guarda, dispa-se de seus preconceitos e ouça. Agora, se prefere esperar eles envelhecerem ou o mais talentoso sair em carreira solo para enfim tecer elogios, a escolha é sua. Não chega a ser uma revolução, mas um inequívoco sintoma de uma mudança que pode vir por aí, se é que já não veio e este tiozão aqui, chegou atrasado e achou graça.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Brasil, o país dos bananas

Créditos: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Antigamente, o rock era sinônimo de subversão.  Não se associava a nada, vivia à margem e tinha um discurso afiado, que era identificado e assimilado por muitos. Mas a recente edição do Rock in Rio ilustrou o que eu observara já há algum tempo (não só neste festival, mas em todos os grandes eventos): o roqueiro, na essência da palavra, é uma raça em extinção. No citado festival, milhares de pessoas se apropriaram de vários apetrechos de patrocinadores e ligaram, de forma proposital ou não, seu corpo ou seu rosto a alguma marca específica. Não há problema nenhum em um festival buscar apoios na iniciativa privada e esta, buscar o retorno do investimento das mais diversas marcas. Mas a passividade do público em aceitar e assimilar tais benesses é sinônimo de seu próprio comportamento com a música e a política que vivenciamos. Adornos na cabeça, bastões para acenar para a câmera, um freak show para o deleite publicitário. E uma música que é assimilada, não importando qual seja. Antigamente era assim?

Quando o Skank precisou fazer um discurso durante o show  para tentar acender alguma consciência política (quando citou o Mensalão), percebe-se claramente a ausência de propósito do público, que não está muito preocuopado com isso. Ok, era um festival, mas são tantos assaltos ao dinheiro público quase que diariamente e o que está acontecendo nas ruas? Pouco, né? Bem pouco.

 Se você vai em algum festival de rock na Argentina ou no Chile, existem inúmeras petições, organizações que montam suas tendas (em defesa dos refugiados políticos da ditadura, dos animais, dos homossexuais, do cultivo particular da maconha, dentre diversas causas) e recebem apoios dos mais diversos, com uma clara mobilização e sensibilidade social.  A plateia carregava uma herança política (nós também), porém lá eles a ostentam e aqui, a gente deixa pro Facebook. No Brasil, basta o picadeiro. Somos os palhaços deste circo, que simplesmente queremos o pão, o entretenimento. Pensar pra quê? Basta a música, que é oferecida e aceita. Ela não precisa nos fazer questionar. Engolimos da mesma forma.

Talvez por isso, o rock nacional perdeu seu dogma, sua razão de existir. E não perdeu hoje. Faz tempo. Basta ver os nomes mais relevantes em qualquer festival no país. Quando o Capital Inicial sobe ao palco e o vocalista Dinho coloca um nariz de palhaço e adota um discurso jovem (algo que ele já não é faz tempo), se apropriando de um linguajar juvenil,  é porque mesmo sem querer, ele precisa preencher uma lacuna, que está vaga, e não é de hoje. Nem pedirei para comparar o rock do mainstream hoje com o de outras épocas…

Aos fatos: o rock, há tempos, não é mais o som da juventude. O sertanejo e o pagode roubaram este espaço, que servem apenas para a alienação da massa. Entre os indignados, o hip hop cresceu, mas por mais que se esforça, continua enclausurado e restrito, mas com público fiel. O rock ficou ofuscado, serve apenas para a classe média. O roqueiro de hoje não passou por dificuldades financeiras, não sofreu censura, repressão e simplesmente fantasia e almeja algo que ficou com seus pais e tios (por isso muitas vezes, a juventude se veste de forma similar, ouve a mesma música e lê o mesmos autores que estavam em voga na década de 1970 ou antes).

E toda a arte, é produto da cultura que absorve. E pra ficar no exemplo do Rock in Rio, são reféns do mainstream, que aplaude o show do 30 Seconds for Mars (banda insossa, mas que tem um vocalista que é ator de Hollywood) e simplesmente não compreende o Bruce Springsteen (um ícone que faz música - principalmente - para os proletários, há cerca de 40 anos). Muito antes de entrarmos no mérito da comunicação em si (pois obviamente, a primeira banda tem infinitamente mais exposição/pretensão midiática do que a última), tal exemplo é sinônimo da passividade, algo que vimos na teoria hipodérmica de comunicação (quando o público simplesmente assimila, absorve o que os meios de comunicação propagam). É percebido que mesmo se o público tem acesso a internet, TV a cabo e pode conhecer artistas mais relevantes, que fogem e confrontam o status quo, ele simplesmente não faz por conformismo, preguiça ou falta de interesse, pois foi de certa forma domesticado a agir assim.

As manifestações de junho demoraram demais a eclodir e precisou de um evento de dimensão mundial para que o povo acordasse, a Copa das Confederações. Mas o povo já está sonolento e somente será estimulado novamente na Copa do Mundo, pois isto se estava enraizado, agora carece de estímulo. A população absorve qualquer coisa de gosto duvidoso e simplesmente assimila, a rebeldia foi confinada a um estágio dormente, com esporádicos acessos de vândalos que se travestem e anseiam por subjugar uma ordem por demais estabelecida.

E quanto ao rock em si e outros artistas (de fato) relevantes, vão ficar cada vez mais segregados. O público atual não procura se informar e se satisfaz com uma banda como Detonautas ou Nickelback. Seu mundinho restrito é confortável, mesmo que lá fora ele possa ser melhor. Mas falta iniciativa e ambição. E por isso ainda tem gente que crê no futuro do Brasil. Se tivesse algum artista, de fato popular, que fizesse o povo pensar, ajudaria muito. Mas por enquanto, o importante é fazer dançar e manter tudo como está. É mais fácil apostar em um Luan Santana ou Naldo, o retorno é mais rápido e certo. E quem poderia questionar, é refém de eternos editais públicos e shows municiados com bênçãos governamentais (por um mercado viciado e desigual), aí a língua encurta. Então o cenário está montado: a geração dos bananas está estabelecida.

Estou sendo muito pessimista? Tomara.

p.s.: no festival Planeta Terra, o autor deste texto, um tremendo hipócrita, usufruiu de um belo óculos branco que recebeu de um dos patrocinadores do evento. Portanto, ele também merece um pouco deste cacho…